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22/04/2010 - Câncer anal:Pequeno constrangimento, grande problema

Menos constrangimento e mais informação: essa combinação é necessária para combater o câncer e outros problemas sérios relacionados ao intestino. A preocupação com esse tipo de tumor vem crescendo, já que os casos estão cada vez mais frequentes. Segundo o médico proctologista René José Rebellato, que atua no corpo clínico da Santa Casa de Araçatuba  as estatísticas mostram que, somados, os casos registrados de tumores de ânus e intestino alcançam números semelhantes aos de câncer de mama, porém, sempre receberam muito menos atenção da mídia, dos pacientes e dos próprios médicos.

O assunto só passou a ser abordado pela imprensa recentemente, após a morte da atriz norte-americana Farrah Fawcett, que lutou três anos contra o câncer anal. Farrah, conhecida principalmente por seu papel na série “As Panteras”, morreu em junho de 2009.

Outra personalidade que recebeu o diagnóstico da doença foi a apresentadora Ana Maria Braga. No caso dela, o câncer anal foi descoberto em 2001, ainda em fase inicial, o que possibilitou a cura.
Rebelatto salienta a importância do diagnóstico precoce, que deve ser feito por um especialista. Segundo ele, quando sentem algum desconforto na região anal, os pacientes logo pensam em hemorróidas e há casos em que até os médicos, por falta de uma sala apropriada ou do material para examinar o paciente, fazem o diagnóstico pelos sintomas, sem a realização de um exame adequado. “Às vezes, o médico não tem experiência com proctologia e acaba prescrevendo o tratamento para hemorróidas, quando o paciente tem outro tipo de problema, como a fístula ou até um tumor.”

Além da falta de informação, existe outro entrave importante para o diagnóstico precoce desses dois tipos de câncer: o constrangimento. Mesmo pacientes que têm histórico familiar da doença não costumam procurar o especialista para realizar exames que possam identificar precocemente os tumores de intestino. “As mulheres permitem que os médicos examinem seus seios e a vagina, mas o constrangimento é maior em relação ao ânus”, explica o proctologista. A questão é semelhante no caso dos homens, com o agravante que eles, geralmente, não têm a cultura de procurar atendimento médico para exames preventivos.

Dos tumores que podem se desenvolver no intestino, o câncer de ânus é mais fácil de ser detectado, pois pode ser percebido como um volume anormal na borda do intestino. Também pode causar dor, coceira ou sangramentos na região.

Já os tumores localizados na área interna podem ser detectados pela colonoscopia, que consiste na introdução de um tubo bastante fino pelo ânus, com uma microcâmera, que permite a visualização das paredes internas. O exame está disponível para a população na rede pública de saúde.

A realização da colonoscopia em intervalos de tempo estabelecidos pelo proctologista é a maneira mais segura de detectar o câncer de intestino ainda no início e deve fazer parte dos cuidados médicos de rotina dos pacientes mais sujeitos ao tumor.

Segundo o médico, o grupo de risco é formado por pessoas com mais de 50 anos, principalmente aquelas que já tiveram na família casos de câncer de intestino ou outros tumores. Aqueles que foram contaminados pelo HPV (sigla em inglês para papiloma vírus humano), o vírus causador do câncer de útero, também estão no grupo de risco.

Aqueles que  já tiveram lesões infecciosas no ânus, como as fístulas, também devem visitar o proctologista.
O especialista alerta: uma alimentação pobre em fibras também representa um risco, pois prejudica o funcionamento do intestino e pode desencadear a formação de pólipos (lesões nas paredes da mucosa intestinal que, em longo prazo, podem se transformar em tumores malignos). As estatísticas comprovam que os tumores atingem mais os fumantes do que os não fumantes.

Sinais
Fora os exames periódicos, estar atento aos sinais do corpo é a melhor maneira de detectar qualquer alteração logo no início. Segundo Rebellato, modificações nos hábitos intestinais precisam ser investigadas. “Se a pessoa costuma ir ao banheiro todos os dias e, de repente, começa a ter dificuldades, deve procurar o médico para verificar o que está acontecendo de anormal”, explica. “O mesmo cuidado deve ter o paciente que tem fezes mais ressecadas e, sem nenhuma explicação, passa a ter diarreias.”

Ainda de acordo com o especialista, outro sinal importante que não pode ser ignorado é a presença de dores dispersas no abdômen e, principalmente, sangramento anal. “O aparecimento de volumes ou massas em qualquer parte da barriga também é motivo para procurar o especialista”, lembra o médico.
Homens e mulheres de qualquer idade devem adotar medidas preventivas que ajudam a evitar o desenvolvimento de um tumor, e esses cuidados estão relacionados à alimentação, que deve ser variada e rica em fibras, à atividade sexual responsável e à higiene.

 “Uma causa relativamente comum do câncer de ânus é o sexo anal sem proteção, pois além de causar ferimentos, a prática transmite o HPV, vírus conhecido por causar câncer nas áreas genitais”, explica o médico.
Segundo ele, muitas mulheres tomam o cuidado de exigir o preservativo do parceiro para a prática do sexo vaginal, mas não têm a mesma preocupação com a penetração anal. O cuidado deve ser o mesmo nas relações homossexuais.

“O ânus é o esgoto do organismo. Por ali é expelido tudo o que não serve mais, inclusive uma grande carga de bactérias. Quando acontece um ferimento nessa região, a chance de infecção é muito grande”, alerta. “Além disso, o sexo anal desprotegido é uma importante forma de contaminação pelo HIV, o vírus da Aids.”

Segundo especialistas, o preservativo nunca deve ser dispensado para a prática de sexo anal, já que mesmo que os parceiros não tenham HPV ou nenhuma outra doença sexualmente transmissível, as próprias bactérias da região anal já são suficientes para causar infecções.

Quanto à higiene, o médico esclarece sobre os problemas que podem ser causados por um hábito bastante comum: o uso do papel higiênico. “Além de não limpar adequadamente, o papel higiênico utilizado com mais pressão pode ferir o ânus, gerando uma contaminação por causa do grande número de bactérias que estão presentes nessa área”, explica o médico. “O ideal é que a higiene após as evacuações seja feita com a ajuda de um bidê ou ducha higiênica, e utilizando sabonete líquido antisséptico, que pode ser adquirido em qualquer farmácia.


Para prevenir o câncer de intestino e de ânus é preciso:
Substituir o papel pela ducha higiênica ou bidê
Usar sabão líquido antisséptico para higiene anal
Não praticar sexo anal sem preservativo
Ter uma alimentação rica em fibras
Beber bastante água (hidratação evita ressecamento das fezes)
Procurar um médico proctologista a qualquer sinal de dor, sangramento ou coceira no ânus, ou dor no abdômen

 

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