Notícias


30/10/2015 - Coração captado em Araçatuba é transplantado em idosa de SP

 A atitude da família da recepcionista Anne Karine Sena da Silva Garcia, de autorizar a doação de órgãos, deu uma nova chance de vida a pacientes que aguardam na fila de espera de transplante um coração, fígado, rins e córneas. 

Aos 27 anos, Anne teve morte encefálica confirmada por meio de protocolos na tarde da última quarta-feira, na Santa Casa de Araçatuba. A jovem foi acometida por um aneurisma cerebral, causando um AVCH (Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico). Foi a 11º captação do ano ocorrida na Santa Casa de Araçatuba.

O coração, um dos órgãos mais raros de se captar - o terceiro captado neste ano em Araçatuba - foi retirado pela equipe do Incor (Instituto do Coração), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em um período de aproximadamente uma hora, das 10h30 às 11h30. No mesmo momento que ocorria a retirada do coração, uma senhora de 63 anos, da capital paulista, diagnosticada com doença de Chagas, estava sendo operada para recebê-lo. 

Como o órgão precisa ser transplantado em até quatro horas após a captação, o cirurgião cardiovascular do Incor, Ronaldo Honorato, acompanhado do biomédico Carlos Imberg e do médico Frederico Browne, saiu do hospital direto para o aeroporto Dário Guarita onde, de lá, a equipe voou em um avião fretado pela Secretaria de Estado da Saúde até o aeroporto de Congonhas, em São Paulo. No local havia um helicóptero para levar os profissionais até o Incor. O trajeto em Araçatuba contou com o apoio da Guarda Municipal. 

Para Honorato, o sucesso na captação do coração só foi possível graças ao empenho e à organização dos profissionais da unidade e também da CIHT (Comissão Intra-Hospitalar de Transplantes). "A nossa parte é a mais fácil. Vir aqui e tirar um órgão é simples. A parte mais difícil eles já fizeram que foi falar com a família, comunicar a morte e convencer no sentido de que aquele organismo é inviável, embora o coração continue funcionando, o pulmão respirando e o rim urinando", ressaltou o médico, ao entender que o herói, nestes casos, é o doador.

Honorato também elogiou a Santa Casa, dizendo ser um hospital de primeira linha e capacitado para o serviço de transplante. "Infelizmente, uma pessoa jovem morreu, deixando uma filha. É sempre uma tragédia a morte, mas a família teve a altivez e o entendimento de que todos os órgãos poderiam ser doados", completou.

Até a tarde de ontem, não havia informações do transplante do coração. Por volta das 17h30, a assessoria de imprensa do Incor respondeu que a cirurgia estava em curso, sem previsão de término. 

MAIS ÓRGÃOS

Além do coração, foi possível remover da paciente o fígado, rins e córneas. Para este procedimento, veio até Araçatuba a equipe da OPO (Organização de Procura de Órgãos) do Hospital de Base de São José do Rio Preto. A retirada do fígado e dos rins foi feita pelo médico cirurgião do aparelho digestivo Luis Francisco de Arruda Zeni. De acordo com a assessoria de imprensa do HB, o fígado teria sido encaminhado para o Hospital das Clínicas da Unicamp (Universidade Campinas) de carro contratado pelo Estado. Já os rins e também as córneas - captadas pela equipe da CIHT de Araçatuba, seriam levadas para Rio Preto. No caso das córneas, elas podem ficar no Banco de Olhos do hospital até 15 dias. Já os rins, o órgão de imprensa acredita que eles seriam enviados para os receptores ainda ontem, após ser avaliados. Esses órgãos e as córneas foram retirados depois do coração. Em nota, a assessoria de imprensa da Unicamp ressaltou que as informações sobre o receptor são confidenciais. 

z88;

O médico neurocirurgião da Santa Casa de Araçatuba, Rodrigo Mendonça, que também cuidou da paciente Anne Karine Sena da Silva Garcia, de 27 anos, disse que não é comum aneurisma cerebral em pessoas com menos de 45 anos.

"No caso dessa paciente, a origem certamente foi uma predisposição genética", explicou. O aneurisma é uma dilatação que se forma na parede enfraquecida de uma artéria do cérebro. Os maiores riscos desse afrouxamento do tecido vascular são ruptura da artéria e hemorragia, causando até a morte.

O pai de Anne, o farmacêutico Mário Pereira da Silva, 52, contou que a jovem sentiu dor de cabeça na madrugada da última segunda-feira. Quando foi ao banheiro para tomar um banho, sentiu vontade de vomitar e acabou caindo. "Ela desmaiou e começou a convulsionar", lembra Silva.

Socorrida até a Santa Casa, Anne ficou na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), em coma induzido. "Chegaram a cogitar cirurgia, mas ela não tinha condições. Tiraram também o sedativo, mas, infelizmente, ela não reagiu", disse. Questionado sobre a permissão em doar os órgãos da filha, Silva afirmou que a decisão partiu da família. "A gente sentiu que ela ia ficar contente desse ato."

Anne, que era casada e tinha uma filha que vai completar dois anos no próximo dia 14, deverá ser sepultada na manhã de hoje, às 9h, no cemitério Recanto de Paz.

Compartilhe: