Equipes de captação de órgãos de São José do Rio Preto, São Paulo e Marília já concluíram por volta das 5 horas da manhã desta terça-feira (21/4), a retirada das córneas, fígado, rins, pâncreas e ossos do araçatubense Afonso Junio Rodrigues da Costa, 28 anos, que teve morte cerebral confirmada na manhã de segunda-feira (20/4) pelo neurocirurgião Rodrigo Mendonça.

O rapaz estava internado na santa casa desde a noite de sexta-feira, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em sua casa, no bairro Umuarama. A mãe de Afonso, Maria Inês Rodrigues, o encontrou caído no chão do quarto. Ele estava sonolento em confuso. Horas antes havia se queixado de dor de cabeça e tontura.

Internado na UTI do hospital no inicio da madrugada de sábado, Afonso entrou em coma e sofreu um AVC fulminante. “Não deu tempo nem para realizar uma cirurgia, pois o quadro evoluiu rapidamente para morte cerebral”, informou o neurocirurgião Rodrigo Mendonça, coordenador do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia da Santa Casa de Araçatuba.

Informada sobre a morte encefálica do filho, Maria Inês decidiu doar os órgãos rapaz, desejo que ele havia manifestado há algum tempo a uma ex-namorada. Filho único, Afonso era solteiro, trabalhava como arte-finalista em uma gráfica da cidade e integrava a tocava musica gospel na igreja Batista, da qual era freqüentador.

“Meu filho era uma pessoa boa, amorosa e gostava de ajudar as pessoas. Por isso decidi pela doação. Tenho certeza que ele aprovou minha decisão, pois mesmo depois de morto continuará sendo útil a várias pessoas”, declarou a mãe do rapaz, poucas horas depois de autorizar a retirada dos órgãos para doação.

Etapas
Referenciada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para retirada de órgãos encaminhados para a Central de Transplantes do Estado de São Paulo, a Santa Casa de Araçatuba segue todos os protocolos que regulamentam a doação e recepção de órgãos e tecidos. A retirada só é consolidada após vários procedimentos realizados em etapas diferenciadas.

Independente do tipo de transplante que será feito, os órgãos captados assemelham-se na restrição em relação ao tempo que podem ser conservados. Um coração, por exemplo, dura no máximo quatro horas fora do corpo. “Por isso o processo de retirada é precedido por uma série de providências que têm uma característica em comum: a luta contra o tempo”, explica o médico, Antônio Cesar de Azevedo Pedro, coordenador da Central de Captação de Órgãos e Tecidos da Santa Casa de Araçatuba.

A primeira etapa é o diagnóstico clinico sobre a morte encefálica, avaliação que obrigatoriamente precisa ser feita por dois médicos, sendo um neurologista ou neurocirurgião, com um intervalo mínimo de seis horas entre cada avaliação.

Além desta avaliação, o paciente doador é submetido a outro exame que confirme que o cérebro não está mais funcionando. Esse exame pode ser eletroencefalograma, angiografia cerebral ou cintilografia de fluxo cerebral. A morte cerebral do doador Afonso Junio Rodrigues da Costa foi confirmada através de cintilografia.

 
A comunicação aos familiares, sobre a morte encefálica é feita pelo médico responsável pelo atendimento do paciente. Se houver da parte destes, o desejo de doação, o paciente passa a ser monitorado por sistemas que mantém a pressão arterial em níveis elevados, fator decisivo para conservação dos órgãos.

Simultaneamente, amostras de sangue são encaminhadas ao Hospital de Base de São José do Rio Preto, para sorologias realizadas para atestar se o organismo do doador está livre de doenças como, por exemplo, toxoplasmose, chagas, HPLV, HIV, hepatites B e C e todas as demais infecto-contagiosas. Se os resultados da sorologia forem negativos para essas doenças, as amostras de sangue são submetidas à outra avaliação importante para o aproveitamento dos órgãos: o HLA (Antígeno de Leucócitos Humanos), exame realizado em São Paulo.

O HLA representa as proteínas que se localizam na superfície de todas as células do organismo. “Ao listá-las, o exame oferece à Central de Transplantes, as informações necessárias para identificar na fila de espera, pacientes com fatores compatíveis aos do doador”, informa o neurocirurgião Rodrigo Mendonça.

Retirada
A intenção manifestada pela família do jovem Afonso Costa, de doação de múltiplos órgãos e tecido ósseo, só foi frustrada em relação ao coração. De acordo com o médico Rodrigo Mendonça, o órgão não pode ser aproveitado em decorrência de uma taquicardia.

Os procedimentos para a retirada foram iniciados por volta das 20 horas, com a preparação da sala cirúrgica e dos profissionais da Santa Casa que participariam da cirurgia. Porém a retirada começou às 23 horas com a chegada de duas das três equipes médicas que vieram a Araçatuba para captação dos órgãos do rapaz: OPO- Organização de Procura de Órgãos do Hospital de Base/Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (córneas e rins); Hospital São Paulo (fígado e pâncreas); e Hospital de Marília (ossos).

Ao todo dez profissionais médicos e paramédicos participaram dos procedimentos, que foram coordenados pelo cirurgião Alcides Salvador, do Hospital São Paulo e testemunhados pelo médico anestesista Antônio Melucci, da equipe da Santa Casa de Araçatuba.

Em menos de dois meses, esta foi a segunda retirada de órgãos realizada na Santa Casa de Araçatuba. Marcos Morais, enfermeiro da OPO, instituição que atua em mais de 70 cidades, informou que Araçatuba e Catanduva são as duas cidades da Noroeste Paulista, que mais contribuem com a doação de órgãos.