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28/09/2012 - Na mídia:Câncer mata mais homens em Araçatuba

Transcrito da Folha da Região de Araçatuba

Por: Mônique Bueno

O câncer, que deve se transformar na principal causa de morte no mundo em 2030, segundo a União Internacional para o Controle do Câncer, matou mais homens do que mulheres em Araçatuba no ano de 2010. Os dados do Ministério da Saúde apontam que, do total de 246 mortes registradas na cidade, 155 homens foram vítimas da doença, ou seja, 63%. No universo feminino, 91 pessoas morreram com câncer.

Para o cirurgião geral e oncologista da Santa Casa, Detlev Mauri Bellandi, o fato dos homens procurarem o médico com menos frequência faz com que a doença seja diagnosticada tardiamente, com menos chances de cura. "Os homens têm pavor de médico e a tendência é procurar o atendimento em último caso", ressaltou. "E como a próstata é a sempre mais atingida pela doença, o importante é que o público masculino faça o exame de toque, ultrassom e exame de sangue para rastreamento do câncer a fim de que o tratamento se torne eficaz." Em comparação com as neoplasias dos órgãos genitais femininos, as que atingem os órgãos masculinos superam o triplo. Em Araçatuba, enquanto cinco pessoas foram vítimas de câncer em órgãos genitais femininos, 17 pacientes morreram por causa do câncer nos órgãos genitais masculinos. Já os casos de câncer de mama mataram dez mulheres em 2010.

O Caderno de Estimativas de Incidência de Câncer de 2012 no Estado de São Paulo, elaborado pelo Ministério da Saúde, aponta que o câncer de próstata lidera os novos casos da doença no Estado; o de mama está em segundo lugar. De acordo com o estudo, 15.690 homens paulistas serão diagnosticados com câncer de próstata este ano. Casos de câncer de mama serão 15.620 novas ocorrências. Bellandi ressalta que novos casos surgirão principalmente por causa dos meios de acesso ao diagnóstico e da expectativa de vida da população. "Se a gente pensar que os homens vivem até os 90 anos pelo menos, praticamente todos eles terão células tumorais, mesmo que pequenas", disse, baseado no fato de que, quanto maior a idade da pessoa, menor a capacidade de produção de células sadias combatentes das células "defeituosas", que crescem desordenadamente, originando o tumor.

"Todas as pessoas produzem, todos os dias, células com algum defeito, mas, quando elas são jovens, conseguem repará-las com as células sadias. Ao longo dos anos, o organismo vai fazendo isso de uma maneira menos potente", ressaltou. Em relação ao câncer de mama, o principal entre as mulheres, Bellandi frisa que os dois importantes fatores de risco é, primeiro, ser mulher e ter também mais de 40 anos. Com o objetivo de detectar o tumor precocemente, ele aconselha a população feminina a fazer o preventivo anualmente, e a mamografia, após os 40 anos.

SENTENÇA
Mesmo com um aumento significativo de novos registros e mortes (em 2030 a Organização Mundial da Saúde estima que 17 milhões de pessoas morrerão com a doença, dez milhões a mais do que no ano passado), Bellandi ameniza a situação dos pacientes diagnosticados com a doença com a seguinte afirmação: câncer não é sentença de morte, desde que descoberto precocemente e tratado por profissionais especializados, como o oncologista clínico e cirúrgico. "Temos que tirar esse estigma da população, de que se tiver com câncer, vai morrer. O câncer se transformou em uma doença crônica e mata menos do que uma hipertensão mal tratada", comparou o cirurgião.

A afirmação de Bellandi, de que doenças ligadas ao coração matam mais do que câncer, é realidade em Araçatuba. Em 2010 morreram 309 pacientes de problemas cardíacos, enquanto 246 foram vítimas dos mais diversos tipos de câncer.

FATORES
O câncer, cujo dia nacional de combate foi comemorado ontem, é uma doença em que as células se multiplicam de maneira desordenada, formando os tumores que podem levar ao espalhamento no organismo, conhecido como metástases. São vários os fatores associados: genética, estilo de vida, hábitos, sedentarismo, entre outros.
Instituto faz alerta quanto ao uso de maconha

O Instituto do Câncer de São Paulo detectou que 25% dos pacientes com câncer de testículo atendidos na unidade fazem uso regular de maconha. O urologista Daniel Abe aconselha a evitar o uso da maconha, fundamental para diminuir as chances de desenvolvimento do tumor. "Além disso, é fundamental que os homens realizem o autoexame para diagnóstico precoce da doença", disse.

A doença é altamente curável, principalmente quando detectado de forma precoce. Acomete predominantemente homens entre 15 e 34 anos. O diagnóstico precoce pode ser feito por meio do autoexame. Percebendo qualquer anormalidade, como nódulo indolor ou massa, sensação de peso no escroto ou dor na região inferior abdominal, deve-se procurar ajuda médica.

Dos 500 pacientes atendidos na clínica de uro-oncologia, 30% apresentam tumores no testículo, dos quais 70% têm sinais de doença avançada (fora do testículo) no momento do diagnóstico.
Aposentado teve que reaprender a falar

Com uma voz grave e pausada, o aposentado João Costa Soares, de 73 anos, recebeu na manhã de sextafeira a reportagem para falar sobre o câncer de laringe, doença diagnosticada há aproximadamente 11 anos. Soares deu entrevista no COB (Centro de Oncologia Bucal), da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araçatuba, depois de ter participado de uma sessão de tratamento com a fonoaudióloga Daniene Tesoni Cassavara Ribeiro.

Em 2001, o aposentado foi submetido a uma cirurgia para retirada total da laringe, após descoberta de tumores no local. "Sentia que minha garganta estava se fechando e minha voz estava ficando rouca", disse Soares, que fumava um maço de cigarros por dia. "Fumei desde os 7 anos porque era lavrador e trabalhava com meu pai na plantação de fumo."

Após a cirurgia, o paciente demorou seis meses para conseguir falar por meio da voz esofágica, que substitui a voz laríngea usando a via digestiva para produzir o som. "É bem difícil aprender, mas, depois você pega o jeito", explicou. Soares participou também de uma sessão com a fonoaudióloga Daniene e o engenheiro Rui Queiroz Galvão, de 70 anos, que também passou pelo mesmo procedimento há exatamente um mês.

O engenheiro ainda está em processo de cicatrização, mas, por meio de uma caneta e um caderninho, informou que está se sentindo bem e pronto para o tratamento, que deverá ter continuidade em Campo Grande (MS), para onde o paciente irá se mudar na próxima semana. Galvão também fumava, cerca de quatro maços por dia. Ele deixou uma mensagem, com os seguintes dizeres: é melhor poder beber socialmente e comer, do que fumar.

O engenheiro disse também que para enfrentar o tratamento é preciso ter constância e paciência.
Seu colega de tratamento concorda e afirma que o paciente necessita treinar muito, todos os dias, para conseguir expressar novamente os sons. No entanto, ambos concordaram que o apoio da família e a confiança nos médicos são essenciais para uma boa recuperação. A fonoaudióloga ressaltou que pacientes submetidos à retirada da laringe, de parte da língua, mandíbula, e faringe, precisam recuperar a comunicação e a deglutição. "A recuperação depende de cada paciente, mas é possível fazer uma adaptação para que ele viva melhor."

MEDO
Ao receber o diagnóstico de câncer, os pacientes têm, na maioria das vezes, dois grandes temores: o primeiro é associá-lo a um "atestado de morte" e o segundo são os efeitos colaterais provocados pela quimioterapia. Ambos os medos precisam ser reavaliados na opinião do médico Enaldo Lima, ex-presidente da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia). "Nos últimos dez anos, o tratamento de câncer passou a se domiciliar, muitas das drogas administradas em clínicas e hospitais hoje são orais, em cápsulas, aumentando exponencialmente a comodidade do paciente", comentou. Além disso, segundo Lima, os remédios atuais são mais brandos, com toxicidade inferior aos mais antigos. "Com relação à queda de cabelo, enjoos, fraqueza e vômitos, os medicamentos atuais apresentam menores efeitos colaterais e ao mesmo tempo contam com eficácia bem superior."

Um dos aliados no tratamento do câncer na mulher é a substância doxorrubicina lipossomal peguilada (DLP) para tumores de mama e de ovário, caracterizada por sua eficácia na redução de efeitos colaterais como náuseas, vômitos, fraqueza e queda de cabelo. O fármaco está presente dentro de pequenas partículas - os lipossomos - que, por sua vez, liberam a medicação no local do tumor. "Isso confere maior segurança ao paciente, uma vez que a molécula não circula no organismo, diminuindo os efeitos colaterais
como queda de cabelos e alterações da medula óssea", acrescentou.

Apoio psicológico é essencial no tratamento
Tudo muda na vida de uma pessoa que tem o diagnóstico de câncer, assim como na de seus familiares. O medo de perder a vida, de não conseguir enfrentar o tratamento, dos efeitos colaterais pode ser reduzido com a ajuda de psicólogos especialistas em oncologia. Esses profissionais têm condições de apoiar, aconselhar, reabilitar e buscar facilitar a transmissão do diagnóstico, dada pelo médico, a aceitação dos tratamentos e o alívio dos efeitos secundários, fazendo com que o paciente obtenha uma melhor qualidade de vida. No caso dos pacientes terminais, uma melhor qualidade de morte e do morrer. Na entrevista abaixo, a psico- oncologista Lara Cíntia Pagliuca Peruzzo, que trabalha do Centro de Oncologia Bucal da Unesp e no Centro de Oncologia do Hospital Unimed-Birigui, mostra como é a reação de um paciente que recebe o diagnóstico de câncer, suas reações e as etapas até chegar a aceitação da doença.

Folha da Região - Como é a reação de uma pessoa que acaba de receber um diagnóstico de câncer?
Lara Peruzzo
- O diagnóstico produz no paciente desorganização emocional. Após recebê-lo, ele sente-se angustiado diante do novo e do desconhecido. Passa a vivenciar o diagnóstico como uma punição, abalando assim a sua autoestima. Sentimentos de ansiedade, medo, raiva, revolta, depressão, insegurança, perdas, desespero, mudanças de humor e esperança são comuns neste momento, até que o mesmo perceba que o enfrentamento é necessário para que o tratamento lhe possibilite melhoras, adaptando-se então à nova realidade.

Quais os tipos de reação que ele apresenta?
Num primeiro momento, o paciente tende a não aceitá-lo, passando a viver a fase de negação da doença. Outra alteração emocional vivenciada é o estado de barganha; nessa fase o paciente tenta negociar com os profissionais de saúde e familiares a forma como gostaria de ser tratado. Depois vem a fase da revolta, onde a vivência do diagnóstico remete o indivíduo a um tempo de crise. É também muito comum o paciente desistir de lutar contra a doença, entrando assim, numa fase de depressão, ou seja, passa a elaborar a aceitação da doença dando- se por vencido, originando assim o medo de morrer. Por fim, o paciente entra na fase de aceitação da doença, passando a contribuir de maneira mais satisfatória ao tratamento.

Qual o atendimento psicológico dado ao paciente?
A psico-oncologia estuda a influência de fatores psicológicos sobre o desenvolvimento, o tratamento e a reabilitação de pacientes com câncer e o principal objetivo do psicólogo especialista em oncologia, ou psico-oncologista, é dar assistência ao paciente oncológico, família, profissionais de saúde, envolvendo as fases de prevenção, tratamento, reabilitação e/ou morte. Dentro desse contexto, o trabalho psicológico pode ser de apoio, aconselhamento, reabilitação ou psicoterapia individual e grupal buscando facilita a transmissão do diagnóstico (dado pelo médico), a aceitação dos tratamentos, o alívio dos efeitos secundários destes, a obtenção de uma melhor qualidade de vida e, no paciente terminal, de uma melhor qualidade de morte e do morrer.

É importante cuidar também dos familiares?
Sim. O diagnóstico de câncer interfere no equilíbrio do sistema familiar impondo mudanças, exigindo reorganização na dinâmica familiar para incorporar às atividades cotidianas os cuidados que a doença e o tratamento do paciente exigem. As famílias também têm medos e angústias e sofrem no seu despreparo frente à doença e quanto mais avançada ela se encontra, maior é esse sofrimento. O apoio psicológico focado na orientação de problemas é uma forma de ajuda para ele aprenderem a priorizar e administrar os problemas e trabalhar com o tratamento, procurando legitimar seu sofrimento e contribuir para a elaboração das experiências do adoecimento.

Qual o conselho você dá às pessoas que descobriram recentemente o diagnóstico?
É importante que o paciente com câncer saiba que, pode sim, ter qualidade de vida, apesar da doença e dos tratamentos. O sucesso dessa busca depende, antes de tudo, da vontade e do comprometimento de cada um. O simples fato de repensar e reavaliar os hábitos na busca de uma vida mais saudável e mais feliz já é um passo importante. Tentar descobrir formas de encontrar bem-estar social, físico, emocional e espiritual são passos importantes para você atingir seus objetivos. Evidentemente, este processo não é tão rápido quanto gostaríamos que fosse e pode ter momentos de altos e baixos. Isso é normal. O fundamental é criarmos formas de nos lembrar de nosso objetivo maior que é conseguir uma vida mais alegre, feliz e direcionada ao bem-estar, buscando alternativas que nos permitam equilibrar o corpo, a mente e possibilitem a descoberta de mais energia para encarar o dia a dia com a presença da doença.

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