Notícias


02/04/2016 - Diretoria da Santa Casa restaura painel sacro de mais de 50 anos

Foram necessários alguns anos para encontrar o profissional certo para restaurar o cartão postal da Santa Casa de Araçatuba. Mas, a espera compensou. O painel sacro em azulejos pintados à mão possivelmente no início da década de 60, pela irmã Laurinda Paulin, uma das apóstolas da Ordem do Sagrado Coração de Jesus, já está restaurado.
 
A diretoria da Santa Casa de Araçatuba contratou a empresa Rose Fávero Recuperação de Artes Sacras, sediada em Birigui e que tem em seu portfólio restaurações importantes, como, a capela da Matriz de Santo Antônio, em Adamantina, e o painel da sede unificada do Araçatuba Clube.
 
A restauração durou quatro meses e fez parte do projeto de revitalização externa do prédio do hospital, realizada no segundo semestre do ano passado. “A pintura do prédio renovou o aspecto do hospital. Mas, faltava restaurar o painel para deixar a obra completa”, explica Fábio Blaya, gestor administrativo do hospital. 
 
O projeto de recuperação da obra sacra foi aprovado pelo provedor Jaime Monçalvarga, custou R$17 mil e  foi executado graças ao patrocínio da Dimen, Instituto de Patologia de Araçatuba e Nova Imagem, que são empresas parceiras da Santa Casa.
 
 
Os desgastes no painel ficaram visíveis nos últimos anos. A exposição direta ao sol e a chuva causou rachadura dos rejuntes e consequentemente, o descolamento de aproximadamente 100 azulejos, além de queimaduras no restante da pintura. A maioria dos azulejos descolados por esses fatores caiu e quebrou. 
 
Por tudo isso, o trabalho de revitalização foi complexo e precisou ser realizado em várias etapas. A começar pelo reconhecimento do desenho. “Não havia um desenho no papel. A própria irmã Laurinda informou anos antes, quando residia em Birigui, que o painel era resultado de ideias que iam surgindo e ela passava diretamente para os azulejos”, informa a artista plástica e restauradora Rose Fávero.
 
Após esse levantamento a equipe, também formada por Rafael Fávero e Moema Madri, especialista em pintura em azulejos, passou para a fase considerada a mais difícil: pintar as peças que seriam usadas na reposição. “Esta fase é difícil porque precisamos usar as mesmas cores que estão no desenho original; e mais demorada porque há de ser o tempo necessário para a secagem do novo azulejo. Só então é possível avaliar se as cores utilizadas batem com a original e dão sequenciamento ao desenho”, explicou Fávero.
 
A recuperação das áreas do painel que perderam azulejos, foi outra etapa do trabalho da empresa. O recuperador Rafael Fávero fez um tratamento minucioso, aplicando um fundo e uma nova camada de argamassa com a espessura correta para manter os novos azulejos alinhados com os originais. Só então, as novas peças do mosaico foram incorporadas ao desenho.
 
Na última etapa, foi aplicado rejuntamento em todo o painel, para evitar que ocorram infiltrações de água que podem fazer com que outros se soltem; e realizada uma limpeza completa para remoção de sujeira acumulada ao longo do tempo. “Para nós foi gratificante restaurar uma obra tão bela e tão rica em detalhes”, afirmou a artista plástica.
 
Irmã Laurinda 
A religiosa Laurinda Paulin era uma das centenas de freiras que  até meados dos anos 70 ,administravam e atuavam no corpo de enfermagem da Santa Casa. Exatamente pela presença plena das apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, a razão social da unidade era Hospital Sagrado Coração de Jesus.
 
Não há registros sobre as funções que irmã Laurinda realizava na Santa Casa e pouca coisa se sabe sobre a vida dela. Há registros de que após sua aposentadoria que ocorreu quando ainda estava em Araçatuba, a freira foi viver no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Birigui. Foi neste endereço que a artista plástica Rose Fávero a encontrou há alguns anos. “A direção da Santa Casa já havia procurado nossa empresa para realizar a restauração. Procurei a irmã Laurinda para conhecer mais sobre o projeto e quem sabe conseguir que ela pintasse os novos azulejos”, relembra a restauradora.  
 
A religiosa não teve condições de realizar o trabalho, mas deu boas informações técnicas e algumas curiosidades relacionadas à obra, à restauradora. “Ela disse por exemplo que em vez de usar mesa inclinada, especifica para este tipo de pintura, preferia montar os módulos de azulejos no chão para aplicar a pintura; foi desta forma que o painel da Santa Casa de Araçatuba foi criado e produzido”.
 
Outra descoberta revelada no encontro entre a freira e restauradora: a pintura não era uma atividade âncora no cotidiano de irmã Laurinda; somente um hobby. “Ela disse que fez todo o painel da Santa Casa e outras pinturas em suas horas de folga.
 
Um hobby que rendeu bons frutos à arte sacra dos lugares por onde passou. Em Marília, por exemplo, cidade onde supostamente a freira ainda resida, o talento dela é descrito em uma reportagem veiculada em agosto de 2014, pelo Diário de Marilia. Na reportagem “A avenida da Saudade”, a jornalista Rosalina Tanuri menciona a existência no cemitério da cidade, de um total de 60 lápides com obras, dentre painéis artísticos em peças de azulejos e afrescos reproduzindo passagens bíblicas e imagens sacras, pintados por Irmã Laurinda Paulin.
 
Numa pesquisa pelo Google, há uma referência sobre a freira, também em 2014. Em junho daquele ano, irmã Laurinda Paulin esteve dentre as freiras homenageadas pela Câmara Municipal de Marília, em sessão solene comemorativa aos 80 anos de fundação do Colégio Sagrado Coração de Jesus.
 
O painel
Totalmente restaurado, o painel ilustra uma das paredes da portaria principal da Santa Casa de Araçatuba. Tem como tema o ministério de cura dos doentes que Jesus Cristo realizou em vida. A Bíblia relata 27 curas, verdadeiros milagres, que somente alguém como o poder do Filho Unigênito de Deus, poderia realizar. Em seu trabalho, irmã Laurinda unificou todas essas curas, em um cenário que lembra o Tanque de Betesda, em Jerusalém. 
 
De acordo com a Bíblia, era ali que os doentes crônicos se reuniam por acreditar que os primeiros que entrassem nas águas do tanque após os anjos agitá-las, seriam curados. Pelo relato bíblico um paralitico passou 38 anos esperando a oportunidade de entrar nas águas, mas não tinha quem o colocasse dentro do tanque. Um dia, Jesus passou por ali e curou o paralitico, sem que ele precisasse de ser colocado nas águas.
 
Compartilhe: