Nas ruas é cada vez mais fácil encontrar veículos com faróis xenon. Tratam-se de lâmpadas de alta tecnologia, com maior poder de iluminação e bem mais eficientes que as lâmpadas comuns. Mas o que pouca gente sabe é que esse tipo de inovação também está disponível na medicina. A Santa Casa de Araçatuba acaba de adquirir um microscópio para neurocirurgias com iluminação xenon. O equipamento de última geração colabora com um fator que é primordial para uma microcirurgia cerebral ou de coluna: a precisão.

“É um microscópio novo, feito para cirurgias neurológicas, tanto cranianas quanto de coluna, mas, sobretudo, para o tratamento dos aneurismas cerebrais e dos tumores intracranianos”, afirma o neurocirurgião Rodrigo Mendonça, coordenador do Serviço de Neurocirurgia da Santa Casa de Araçatuba.

O médico explica que a lâmpada xenon é mais clara e nítida do que a iluminação convencional (halógena), o que permite a melhor visualização de todo o campo cirúrgico, ou seja, a área que está sendo operada. Com esse tipo de iluminação, a luz é distribuída de maneira uniforme, impedindo que existam áreas mais claras e mais escuras dentro do campo cirúrgico. Outra vantagem apontada pelo especialista é que a luz produzida pelo equipamento é branca e não amarelada, como a iluminação dos microscópios tradicionais. A luz branca impede que haja alteração nas cores quando as imagens são visualizadas pelos cirurgiões por meio do microscópio ou em monitores de alta definição.

Para o especialista, somente a luz xenon já seria motivo suficiente para justificar o investimento em um equipamento de última geração como esse microscópio. Porém, o aparelho tem ainda outras vantagens. Uma delas é um microscópio auxiliar que permite que dois cirurgiões possam operar juntos. Além disso, a imagem captada pelo microscópio é transmitida para um monitor de alta resolução, facilitando o ensino para acadêmicos, o que melhora a referência do hospital em cirurgias de alta complexidade.

Outro grande avanço do equipamento é um joystick (controle) por meio de pedal, que permite ao cirurgião movimentar o microscópio sem utilizar as mãos, ganhando tempo durante a cirurgia. O controle de pedal também possui ajuste de foco.

IMPORTÂNCIA

Em neurocirurgia praticamente a totalidade dos procedimentos são considerados de alta complexidade e necessitam de extrema precisão. Em uma cirurgia cerebral, por exemplo, o microscópio é utilizado durante a maior parte do procedimento. “Quando operamos um aneurisma cerebral, primeiro fazemos uma craniotomia (abertura no crânio), que leva entre 40 a 60 minutos. Assim que terminamos essa etapa, colocamos o microscópio no campo operatório e iniciamos toda a dissecção cerebral dos vasos sanguíneos e do aneurisma, a clipagem (procedimento para evitar que o sangue chegue à área do aneurisma) e a revisão operatória, tudo isso com o microscópio”, explica o cirurgião Rodrigo Mendonça. “Isso significa que utilizamos dois terços do tempo cirúrgico com o microscópio e apenas um terço é reservado para abrir e fechar o crânio”, completa.

O cirurgião cita ainda outro exemplo: “Nas cirurgias de tumores profundos, mais de 80% do tempo do procedimento é dedicado ao uso do microscópio. A anastomose vascular também (a técnica é utilizada para suturar vasos sanguíneos). São cirurgias de alta complexidade que seriam impossíveis sem o uso do microscópio”.

MODERNIZAÇÃO

O microscópio custou R$ 110 mil e  foi adquirido com recursos do Governo Federal,através de emenda parlamentar apresentada pelo deputado federal João Dado. O aparelho de última geração vem se juntar aos equipamentos de ponta já disponíveis no setor de neurocirurgia da Santa Casa de Araçatuba. O hospital já possui tomógrafo helicoidal, aparelho de ressonância magnética e arco cirúrgico, que são equipamentos de última geração. “Esse novo microscópio vai aumentar ainda mais nossa eficácia nas cirurgias, tornando-as ainda mais rápidas e seguras”, afirma o neurocirurgião Rodrigo Mendonça.

O volume  de procedimentos do Serviço de Neurocirurgia cirúrgico é expressivo. No ano passado foram 555 cirurgias, mais do que uma por dia. Metade dos procedimentos foram cirurgias cerebrais e metade, de coluna.