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15/02/2016 - Microprematuros: Miguel é vitorioso na guerra contra a morte

 Araçatuba

Monique Bueno
monique.bueno@folhadaregiao.com.br
 
Toda vez que o nome Miguel é mencionado na Bíblia, se refere a um comandante dos exércitos celestiais em disputa com o mal. Para a felicidade de todos, sempre sai vitorioso. A história antiga não poderia ser diferente a da atual. O pequeno Miguel, de Rubiácea, enfrentou diversas batalhas nos últimos três meses e saiu como um verdadeiro campeão. Miguel venceu a morte. 
 
O menino nasceu no dia 8 de novembro do ano passado, quando sua mãe, a dona de casa Mariluci de Souza Ribeiro Ferreira, de 21 anos, ainda estava no sexto mês de gestação. Ou seja, a criança veio ao mundo como um microprematuro, com apenas 24 semanas, 688 gramas e 31 centímetros. Era para ser o primeiro combate do soldado Miguel, mas a guerra começou bem antes. 
 
Com o filho no colo, de três meses de vida, 2,2 quilos e 39 centímetros, Mariluci contou que não podia engravidar por conta do útero invertido acompanhado de um mioma. Foram vários tratamentos, mas em vão. Até que, por milagre, ela tornou-se mãe. "Desde o primeiro ultrassom eu sabia que teria um bebê prematuro, mas achei que fosse nascer com sete ou oito meses, e não seis", contou a dona de casa, que fez o pré-natal com um médico particular de Birigui.
 
Ela foi orientada a permanecer em repouso absoluto na gestação. Mesmo assim, teve algumas intercorrências, como um sangramento intenso. "O médico chegou a dizer que eu tinha perdido, mas ele estava lá, com o coração batendo." No começo do mês de novembro, Mariluci passou a sentir fortes dores na barriga. No entanto, foi informada de que fazia parte da gravidez e era para continuar a repousar. Até que, no dia 8 daquele mês, a bolsa estourou. "Não sabia o que fazer, era muito cedo para ter o nenê. Meu marido me levou para a Santa Casa de Birigui e um dia depois vim para cá", disse. Mariluci deu entrevista à Folha da Região, na última quarta-feira, no berçário patológico da Santa Casa de Araçatuba. O hospital é referência do SUS (Sistema Único de Saúde) para gestantes de alto risco da região.
 
"Temos que cortar as fraldas RN pela metade para servir", diz enfermeiro
 
Atuando há dois anos como enfermeiro chefe assistencial da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Neonatal 2, da Santa Casa de Araçatuba, Ricardo Rodrigues Barboza, conta que cada dia vivido no setor é uma vitória. Acostumado a lidar com situações cotidianas de bebês que lutam para sobreviver, o profissional afirma que não tem preço ver cada passo do desenvolvimento da criança sendo comemorado por todos os envolvidos em sua história. 
 
"Nada paga o sorriso, as lágrimas e a alegria de uma mãe ao pegar seu filho no colo pela primeira vez e levá-lo para seu lar, junto da família. É um sonho sendo materializado", disse.
 
Dentre as dificuldades enfrentadas pelos bebês que estão internados na UTI, a principal delas, segundo o enfermeiro, é a superação da imaturidade extrema. Ele explica que o bebê prematuro é biologicamente mais vulnerável e necessita de cuidados especiais como a incubadora aquecida para ajudá-lo a manter a temperatura corporal. 
 
"Dependendo da maturidade dele, não deve ser banhado, apenas higienizado. Sendo assim, a troca de fralda é mais frequente, mas as que são vendidas no tamanho RN (recém-nascido) ficam grande e temos que cortá-las até pela metade para servir no prematuro", explicou, ao lembrar que isso ocorreu com o menino Miguel.
 
No hospital de Araçatuba, a dona de casa permaneceu internada por 24 dias. Os médicos que a acompanharam perceberam que o bebê apresentou queda dos batimentos cardíacos e decidiram fazer a cesárea. "Antes de ele nascer, os médicos me pediram para rezar e ter fé porque era muito prematuro", lembrou a mãe, que é evangélica. Após a cesárea, Miguel foi direto para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Neonatal, onde permaneceu por 80 dias.
 
Mariluci explicou que não funcionava nenhum órgão e o bebê precisava se desenvolver. "Eu o visitava todos os dias, tirava o leite para ele se alimentar." A mãe era transportada à Santa Casa, diariamente, por uma ambulância da Prefeitura de Rubiácea.  
 
Após esse período, o menino foi transferido para o berçário patológico, onde ficou por mais 15 dias. Ele foi para casa na última quinta-feira. "Os médicos fizeram tudo o que podiam pelo meu filho e quando não conseguiam mais, entrou a providência de Deus. Tudo e a todo momento teve a mão de Deus. Sabia que a sobrevida do Miguel era muito pequena e nós, com muita fé, vivemos um dia de cada vez", disse a mãe, emocionada. 
 
Questionada o que deseja ao filho no futuro, Mariluci contou que só quer que ele seja saudável e muito feliz. "Lá na frente, quando ele estiver grande, vou dizer a ele agradecer todos os dias a Deus. Ele vai saber que serviu de exemplo para muitos."
 
A Santa Casa de Araçatuba informou que, no caso de Miguel, que nasceu com peso abaixo de 800 gramas, o risco de mortalidade é alto. Tanto é que somente ele sobreviveu dentro de um grupo de cinco bebês que nasceram em novembro, com menos de um quilo. Já aqueles que nascem com mais de um quilo, a taxa de sobrevida aumenta consideravelmente. 
 
Levantamento feito pela assessoria de imprensa do hospital com dados das duas UTIs Neonatais mostra que, nos meses de novembro e dezembro de 2015 e janeiro deste ano, foram registradas 75 internações em UTI Neonatal, sendo 80% bebês prematuros menores de 2,5 quilos. Desse total, 20 morreram, o que corresponde a uma taxa de 15%. Todos tinham menos de um quilo e a maioria era filhos de mães que não realizaram o pré-natal ou sofreram algum tipo de patologia durante a gestação. Também há casos de usuárias de drogas.
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