Monique Bueno- Folha da Região( 16/10)
O Serviço de Cirurgia Cardiovascular da Santa Casa de Araçatuba, referência no tratamento para a região há 12 anos, realiza pelo menos uma cirurgia cardíaca por dia. O procedimento se torna a única ou a última opção para problemas como insuficiência coronariana, segundo o cirurgião cardiovascular Hélio Poço, coordenador do serviço. "Mas o médico não opera o paciente se é contra sua vontade." Uma cirurgia cardíaca paga pelo governo custa aproximadamente R$ 8 mil. As feitas em unidades particulares podem chegar a R$ 20 mil.
A implantação de pontes de safena e mamária corresponde a aproximadamente 40% dos procedimentos cardíacos feitos no hospital. "Se tem um entupimento na veia coronária, tira-se um segmento da veia safena e costura entre a aorta e a coronária, é como um desvio que serve para levar sangue, por exemplo, a uma artéria que está comprometida por um entupimento", explica Poço. "Se tem um entupimento, chega menos oxigênio no coração e no cérebro e a pessoa pode ter um infarto."
Além da ponte de safena, o serviço realiza troca de válvulas e corrige doenças congênitas, doenças da artéria aorta e aplicação de marcapasso. A Santa Casa ainda não faz transplante do coração porque precisa de infraestrutura e equipe para monitorar os pacientes transplantados. "Apesar de ser uma cirurgia simples, pode haver rejeição do órgão e uma equipe de profissionais tem que ficar à disposição", explicou o cirurgião. A maioria dos centros de transplantes, segundo Poço, está nos hospitais universitários.
Para a realização da cirurgia, o hospital oferece equipamentos como arco cirúrgico, que serve para monitoramento do serviço por meio de imagens, máquina extracorpórea, que substitui as funções do pulmão e do coração e o balão intra-aórtico, um fortalecedor do coração durante as intervenções na hemodinâmica e no pós-operatório.
A recuperação do paciente é feita na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Coronariana, que conta com 10 leitos, cada um com monitor cardíaco, desfibrilador e respirador artificial. O atendimento é feito por cardiologistas, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e assistente social.
HEMODINÂMICA
Pacientes com problemas cardíacos que não são indicados pelo médico para uma cirurgia, podem ser submetidos ao cateterismo, que é um exame invasivo para diagnosticar obstruções nas artérias coronárias e angioplastia, procedimento realizado para desobstruí-las. Há ainda a angioplastia coronária primária, um tratamento imediato para pacientes que sofreram infarto agudo o miocárdio (músculo do coração). O procedimento reduz em até 50% o índice de mortalidade nesses casos, em relação ao tratamento convencional, feito apenas com medicamentos."A Santa Casa possui hoje uma estrutura que a coloca em condições de igualdade com os principais centros de tratamento das doenças do coração", ressaltou Poço.
Após recuperação paciente quer voltar a treinar atletas
A vida ativa do argentino Juan Domingo Abbattista, de 60 anos, que há 20 atua em Araçatuba como treinador de futebol, teve que ser interrompida temporariamente para que seu coração fosse recuperado. Ele foi submetido em junho deste ano a uma cirurgia cardíaca para desobstruir três veias entupidas - duas com 90% de entupimento e a outra com 70%. "Era operar ou operar. Sou medroso, retardei a cirurgia durante um ano, mas tive que encarar para o bem da minha saúde", disse ele, que ficará em repouso pelo menos um ano, até a cicatrização total do tórax.
Uma das causas do problema cardíaco de Abbasttista é o patrimônio genético, herdado pela mãe, que faleceu por doença cardiovascular quando ele tinha apenas 12 anos, na Argentina. "Eu nunca reparei que podia ter alguma coisa no coração, só que minha alimentação era muito ruim, comia oito pães por dia, comia muita fritura", ressaltou. Já em 1992, Abbattista foi submetido a uma angioplastia, com o objetivo de desobstruir a artéria - por causa do cansaço. A angioplastia é uma técnica hemodinâmica que utiliza um minúsculo balão na ponta de um catéter, que é insuflado dentro da artéria obstruída com placas de gordura e sangue, além de uma minitela de chamada stent que, aberta, facilita o fluxo sanguíneo.
O tempo foi passando e no campo de futebol o treinador disse que sentia alguns "chiliques" e quando isso acontecia, tinha que colocar remédio debaixo da língua. "Sabia que tinha que operar, mas comecei a pesquisar as cirurgias do coração e via aquela serra cortando o tórax, que me amedrontava. Por isso deixei o tempo passar", contou.
O procedimento cirúrgico foi feito na Santa Casa pelo cirurgião cardiovascular Hélio Poço, no dia 14 de junho deste ano. Abbattista aconselha às pessoas que estão à espera de uma cirurgia do coração que se tranquilizem, pois a recuperação é rápida. "Três dias depois da minha cirurgia já estava andando. Minha recuperação foi muito boa e a orientação agora é mudar de vida, caminhar e comer alimentos saudáveis", disse. "Inclui salada na minha alimentação e continuo comendo frutas. A minha sorte é que nunca bebi e fumei."
Abbattista sente vontade de voltar a treinar a garotada, que tem uma média de idade de 11 anos, mas, por enquanto, só pode acompanhar as atividades de longe. "Tenho que ficar afastado porque uma bola pode bater no meu peito e machucar