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12/05/2021 07:57:52 - Na trincheira dos hospitais, enfermagem enfrenta a guerra silenciosa contra inimigo invisível

ANTONIO CRISPIM – ARAÇATUBA

Há mais de um ano o mundo trava uma guerra contra um inimigo invisível, que só no Brasil já matou mais de 425 mil pessoas. Na trincheira dos hospitais, um batalhão de branco desfile pelos corredores no combate ao inimigo invisível. Impossível náo ter medo ou mesmo momentos de desespero e ir às lágrimas. Porém, o compromisso profissional – a missão ´- é maior. Não pode recuar e assim seguem a jornada. Muitas vezes, após plantão de 12 horas, esses profissionais precisam apenas de alguns minutos sozinhos para chorar, seja dentro do carro ou mesmo debaixo do chuveiro. É na solidão que podem tirar a capa de super herói e deixarem aflorar os sentimentos. Hoje – 12 de maio – comemora-se o Dia Internacional da Enfermagem. A reportagem de O LIBERAL REGIONAL falou com profissionais sobre esse momento tão diferente. Uma forma de homenagear os milhares de profissionais que estão nessa guerra silenciosa, mas letal.

“Juro dedicar minha vida profissional a serviço da humanidade, respeitando a dignidade e os direitos da pessoa humana, exercendo a Enfermagem com consciência e dedicação, guardando sem desfalecimento os segredos que me forem confiados”, diz o juramento proferido pelos formandos de enfermagem. E foi com este princípio que milhares de profissionais enfrentaram um inimigo desconhecido. Viram famílias serem dizimadas e pessoas morrerem no isolamento hospitalar, sem o afago de um familiar. Muita dor.

A Santa Casa de Araçatuba é a maior instituição hospital da região, com aproximadamente 1,3 funcionários. São 568 auxiliares de enfermagem, 153 enfermeiros, 1 enfermeira do trabalho, 1 técnico de enfermagem do trabalho, 182 técnicos de enfermagem e 45 enfermeiros clínicos. É com esse batalhão de profissionais e mais as equipes médicas, nutrição, limpeza e administração, que o hospital já devolveu às famílias mais de 1.250 pacientes plenamente recuperados.

A enfermeira Michele Andressa de Castro Rodrigues tem 11 anos de profissão e atua na Gestão de Assistência. Trabalha com uma equipe que não está na linha de frente, mas nem por isso é menos importante. Interpreta a legislação, busca de medicamentos e procura garantir toda a estrutura para que o paciente tenha o melhor atendimento. “Eu nunca tinha vivenciado uma pandemia na proporção que a covid instalou. A gente passou por momento de muita incerteza, de muito medo, de não saber como será o dia de amanhã. É uma doença muito solitária, e de muita insegurança, da gente não saber o que vai ser do dia de amanhã. Quando a gente percebe a perda de um paciente, ver os colegas de profissão que estão mais na linha de frente cabisbaixos, é muito difícil, é um sentimento de impotência”, disse a enfermeira, que perdeu um familiar para a doença.

A enfermeira Fabiana Zuchini Galvani tem 17 anos de profissão. Ela é a responsável técnica. Mesmo com toda experiência, se emociona em determinados momentos, “No começo foi muito difícil, porque foi uma doença que contaminou funcionários nossos. E como você vai colocar esses funcionários na escala? Como atender a demanda aumentando de pacientes sendo que seus funcionários estão doentes? A gente foi tendo as contratações. Hoje a gente já está estável, com as UTIs prontas, as enfermarias, com número de funcionários correto, já conseguimos ter dois enfermeiros por unidade”, disse ela lembrando os momentos iniciais de dificuldades. Além disso, havia dificuldade em repor o quadro.  A Santa Casa teve quatro perdas por covid.

Segundo Fabiana, havia dia que tinha de ser forte para a gente conseguir passar que estávamos fortes para os outros colegas. “Mas quando a gente chega em casa o que você faz? Você chora”, relatou. “Será que eu vou voltar pra encontrar minha filha, meu marido, minha mãe? A hora que você sai você fala “Meu Deus, me proteja”.

“Um caso que me marcou foi o do avô da Michele. No dia que ela falou assim pra mim “o meu vô está com covid”, aí você fala “E agora? É minha colega precisando”. Eu fui com ela no pronto-socorro, levamos o vô dela até a UTI, ela entrou na UTI. Me perguntaram se eu não fiquei com medo da contaminação, mas como você pensa nisso se sua colega está precisando? Não tem jeito”, disse.

Segundo ela, teve uma funcionária, escriturária, que perdeu quatro da mesma família. E ela voltou a trabalhar.

A tesoureira da Santa Casa, Maria Ionice Vieira Zucon, acompanha de perto o dia a dia da instituição. “Além de prover recursos materiais, tivemos que prover força para os trabalhadores. Porque embora eu esteja na administração, eu estou muito por dentro de tudo”, afirmou ela. “Eu cedi o meu ombro pra muita gente. Medo de levar pra casa, saudade dos pais que são de idade, os filhos que não podem ficar juntos. Sempre buscando dar esse apoio psicológico. É a hora que a gente busca em Deus e tenta ajudar em alguma coisa”, acrescentou.

“Na administração tivemos problemas com medicação, oxigênio, passamos uma noite aqui o cilindro de oxigênio correndo nesses corredores para as UTIs. Passei a madrugada aqui com o pessoal, com a empresa, os médicos, todo mundo envolvido e batalhando. A gente está aqui correndo e lutando para não deixar voltar. Amanhã pode ser eu, eu volto pra casa hoje e amanhã eu posso estar indo pra um leito”, afirmou

Segundo a tesoureira, chegou a ter uma semana com 288 funcionários faltando por conta da pandemia, ou era suspeita, ou a família. São 1.365 funcionários.

“Quero estender o meu abraço a toda a enfermagem de Araçatuba, da Santa Casa em especial, dessas meninas que são as minhas filhas do coração, e a todos os profissionais da enfermagem. E daqui estender, e no dia deles, render essa homenagem, e devêssemos impor a bandeira e cantar o hino para estes profissionais. Eu sempre, por onde eu passei, eu preguei essa fala. O enfermeiro, o auxiliar, o técnico, aquele que cuida no sentido de amar de perto o próximo, ele é as mãos de Jesus que alcança os Dele. Faz o que Jesus fez. A história se repete”, con

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