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30/06/2010 - Novas alternativas para humanizar cirurgias pediátricas

A Medicina já dispõe de alternativas para tornar menos invasivos procedimentos cirúrgicos para tratamento de algumas doenças infantis e até para tratar clinicamente, aquelas que até recentemente demandavam cirurgias de grande porte. O tratamento do refluxo vesicoureteral (anomalia congênita do trato urinário, na qual a urina contida na bexiga retorna ao rim, contra o fluxo normal, ocasionando danos renais irreversíveis), por exemplo, já não passa necessariamente por cirurgia, na maioria dos casos.

Os temas foram debatidos durante o 12° Congresso Brasileiro de Urologia Pediátrica e o 7° Congresso Paulista de Cirurgia Pediátrica, eventos realizados no início de setembro pela Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica. Na ocasião, foram expostos e debatidos temas relacionados à cirurgia pediátrica  urológica, oncológica, gastrointestinal e fetal, além de transplantes em crianças.


Estudos realizados por grupos de trabalho da especialidade de urologia pediátrica, que investigaram a evolução de ambas as terapias, concluíram que, na maioria dos casos, o crescimento da criança e o controle das infecções através de antibióticos contribuem para a redução do refluxo. “O tratamento pode durar até que a criança complete sete anos, período em que se verificou a solução espontânea do refluxo”, explica o cirurgião pediátrico, Aimar Garcia Sanches.


Sanches, que integra o quadro de cirurgiões que atuam na Santa Casa de Araçatuba,  participou do 12° Congresso Brasileiro de Urologia Pediátrica, evento realizado em São Paulo a cada dois anos, explica que o resultado dos estudos é um avanço importante para humanizar o tratamento em relação à cirurgia convencional: “Um procedimento de grande porte, que necessita internação hospitalar de até uma semana, é um fator que gera sofrimento para a criança e transtorno familiar”.


Para o especialista que realiza em média 350 cirurgias pediátricas por ano, o sucesso do tratamento do refluxo vesicoureteral está diretamente associado ao diagnóstico precoce. “Caso se retarde o diagnóstico, a doença pode se agravar, provocar queda da função renal e evoluir para uma infecção muito grave”, informa  Sanches. Porém, o médico reconhece a dificuldade das mães em reconhecer os sintomas que nos bebês, principalmente nos lactantes, são muito semelhantes aos de outras patologias: redução da sucção, irritabilidade, febre, queda do estado geral, entre outros.


O cirurgião pediátrico alerta que, no caso dos bebês, “qualquer diminuição da atividade, como no caso da sucção durante a amamentação, além do desinteresse pelo ambiente, por exemplo, é motivo para que a mãe procure o pediatra, que fará a investigação necessária”. Em crianças com mais idade, os principais sintomas são: queixa de ardência miccional, dor ao urinar e aumento na frequência das micções.


Em ambos os casos, afirma o cirurgião Aimar Garcia Sanches, “o pediatra investigará a ocorrência de infecção urinária através de exames específicos. Em caso positivo, a criança passará por tratamento para controle da infecção. Em seguida, serão necessários exames para investigar o trato urinário e afastar alterações anatômicas e funcionais, entre elas o refluxo vesicoureteral.”


Videolaparoscopia


 A utilização da videolaparoscopia em cirurgias pediátricas foi um dos temas do 7° Congresso Paulista de Cirurgia Pediátrica. Considerado o procedimento que humanizou boa parte das cirurgias de pequeno e médio portes realizadas em adultos, a videolaparoscopia já é apontada também como um avanço recente da cirurgia pediátrica, pois possibilita tratar os pequenos pacientes de forma menos invasiva.


O cirurgião pediátrico Aimar Garcia Sanches, que atua na Santa Casa de Araçatuba há treze anos, considera a técnica fundamental, principalmente para tratar algumas doenças abdominais: “A videolaparoscopia pode ser utilizada, por exemplo, na correção do refluxo gastroesofágico (o conteúdo alimentar retrocede do estômago para o esôfago). A técnica oferece segurança e proporciona resultados satisfatórios”, informa o médico ao reportar os resultados apresentados durante o Congresso Paulista, em relação a estudos feitos com pacientes operados na infância e que estão agora na faixa etária dos 15 aos 20 anos.


A orquidopexia, cirurgia para corrigir criptorquidia (ausência uni ou bilateral de testículo no escroto, em decorrência de o órgão haver ficado retido na cavidade abdominal ou no canal inguinal) e a colecistectomia, retirada cirúrgica da vesícula biliar, são duas outras indicações para procedimentos videolaparoscópicos em pediatria. “A videolaparoscopia proporciona que a criança tenha um pós-operatório mais confortável, com menos dor e menor tempo de internação”, afirma  Sanches.


As vantagens, no entanto, esbarram nas restrições econômicas próprias de procedimentos não rotineiros ao sistema de atendimento público, convênios e privados. “Os materiais utilizados nas cirurgias pediátricas custam mais caro, em relação à videolaparoscopia em adultos. Por isso precisam ser adquiridos com antecedência, tanto pelo SUS (Sistema Único de Saúde) quanto pelos demais planos de saúde, fator que pode limitar a realização desses procedimentos”, conclui o cirurgião.
 

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